
Alaíde Menondça (à esq.), Gerardo Dias (ao centro) e Humberto Mota (à dir) amigos de Chico em Maranguape e um único sentimento: a saudade
Foto: Leonardo Heffer/ NE10 Ceará
Seu Humberto Mota é 14 anos mais velho que o humorista. Aos 94 anos, ele ainda é dono de uma simpatia admirável. Nem mesmo as dores quando caminha e o problema de audição (é preciso falar alto e devagar para que ele compreenda), o impediram de receber o NE10/Ceará na manhã seguinte ao falecimento do amigo.
"Chico era uma pessoa admirável. Incrível mesmo", assim, de forma simples é que seu Humberto já descreve o amigo que fez quando eram jovens, quando Chico já morava no Rio de Janeiro. "Ele veio passar um mês aqui em Maranguape e ficou hospedado em minha casa. Toda noite ele puxava o banco e ia sentar na calçada. Sempre juntava um monte de gente para ouvir as piadas do Chico", lembra seu Humberto.
As lembranças, quase sempre, trazem a ele um riso aberto. Uma das lembranças mais vívidas, foi quando Chico, hospedado em sua casa, precisou voltar para o Rio de Janeiro. "Meu irmão foi deixá-lo no aeroporto. Isso cedo, oito da manhã. Quando dá doze horas eu venho em casa almoçar, vejo um carro vindo e Chico e meu irmão no carro. Quando chegaram aqui eu disse 'Perdeu o avião hein Chico!' e ele disse 'Não, perdi não. O avião estava lá, eu perdi foi minha escova, vim aqui pegá-la".
Já na rua onde hoje ainda resiste ao tempo, a casa onde Chico nasceu, outro amigo, mas esse de infância. Gerardo Dias tem 84 anos, e ele recebeu o NE10/Ceará, dentro da antiga casa da família do humorista. Chamado de "Amador", apelido que ganhou por causa do avô, que se chamava Chico Amador, seu Gerardo tem lembranças das brincadeiras de infância.
A personalidade de Chico é lembrada pelo amigo como "um garoto cheio de arrumação". Para quem não conhece o dicionário da região, "arrumação" é o mesmo que armações, danações, como diria o povo "cheio de invenção, este menino!". Depois que o humorista foi embora, seu Gerardo lembra que os reencontros era regados a "pagode". Novamente, pagode, na linguagem local significa diversão, bagunça, festa.
A lembrança mais marcante para seu Gerardo eram as brincadeiras. "O que ele mais gostava de fazer era brincar de bola de meia. O negócio dele era fazer bola de meia. A gente ia brincar debaixo dos pés de manga".
O teatro já fazia parte da vida de Chico nessa época, segundo seu Gerardo. "A noite ele ia entrar no sítio e me convidava, dizendo que ia fazer um teatro. Eu nunca fui muito disso, por isso nem brincava muito de teatro com ele, mas era o que ele gostava", afirma.
Relembrar o passado também emociona o amigo. "Tenho muita saudade dele. Já rezei muito para ele. Que ele esteja em um bom lugar", diz seu Gerardo.
Mas emoção mesmo foi o encontro com Dona Alaíde Mendonça, também de 84 anos. Ela frequentava a casa de Chico para fazer a catequese, que era ministrada no sítio Ipú. "Eu ia lá aprender a reza. Foi lá que eu o conheci e fizemos amizade", conta.
Da infância dos dois, ela guarda bem as característica do pequeno Chico. "Era um menino muito alegre, adorava subir nas árvores pra pegar manga. Toda vida que eu passava por lá e ele estava na árvore, já ouvia ele gritando: 'Alaíde, quer manga?'. Ele gostava muito de manga. Era um menino bom".
Da notícia da morte, Alaíde lembra que ouviu na televisão e não quis acreditar. Quando finalmente compreendeu que seu amigo de infância tinha morrido, se emocionou. "Chorei muito quando entendi que Chico tinha partido". Emoção essa que ainda era visível nos olhos e na fala da senhora de jeito calmo, que mora mais afastado do centro de Maranguape.
E quando é perguntada o que vai ficar do Chico para ela, Alaíde simplesmente balança a cabeça, olha para algum lugar na casa, sem realmente olhar e respira fundo. Os olhos marejados já deram a resposta mais sincera, muito antes dela precisar dizer com um tom mais embargado na voz ... "Saudade".
Fonte: ne10
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